Historicamente o Homem observou a
Natureza em busca de resolver seus problemas. Comer, vestir,
construir, sobreviver, planejar-se para o inverno. Humanidade se
sofisticou, necessidades também. A busca por longevidade, supremacia
cultural, meios de empregar o trabalho mais eficientemente, de forma
menos penosa...
A sistematização dos saberes, a
ciência como a conhecemos não fugiu à regra. Sempre construindo
com base nas fundamentações anteriores, certas ou erradas, não
importou para a criatividade, para a superação de um entendimento.
Um mais adequado suplantou um menos adequado e assim tem sido.
Necessariamente uma ideia nova,
revolucionária não surge do “nada”1.
Todas as ideias têm um contexto
criativo absolutamente dependente de outros seres humanos, de
novas formas de ver as mesmas coisas e de conhecimentos previamente
acumulados. Com isso gera-se ideias novas de como se fazer ou
entender as coisas no Mundo. Isso é a criatividade!
As coisas começam a ficar
interessantes quando alguém (talvez um economista) diz que você
pode uniformizar o valor das coisas e um dos desdobramentos disso foi
outorgar direitos de propriedade sobre ideias. Parece justo que a
inventividade, criatividade, o gênio de alguém seja recompensado de
alguma forma não parece? O interessante é que, principalmente nos
dias de hoje, são outras pessoas ou empresas que se apoderam das
ideias de indivíduos (músicas, patentes, teorias, livros já
publicados, artigos) e se beneficiam com a “propriedade” delas.
Irônico ter-se a propriedade de algo que não lhe é próprio..
...mas esse é o jogo não é?! A pergunta é: até quando vamos
jogar?
Einstein, Sabin, Santos Dumont fizeram
coisas de inominável benefício para a humanidade. Já nos
interessamos alguma vez em saber o que eles achavam da “propriedade”
intelectual? Acho que deveríamos saber.
O próprio Einstein disse que Newton
foi o ser humano que provavelmente tenha feito o maior esforço
intelectual singular da História2,
mas será que ele foi “dono” de suas ideias? E se fosse? Será
que elas seriam difundidas tal como foram?
É justo que algum Juiz - esses
cavalheiros, ou damas, ilibados, com poderes quase divinos a serviço
da justiça – diga o que é de quem ? Eles têm historicamente
decidido a favor do bem comum ou do bem econômico? É justo que
digam que a obra de Freud pertence a editora X e seus acionistas,
cujos parcos patrimônios intelectuais estão focados nos “teóricos”
da Wall Street em detrimento do entendimento do que é o inconsciente
ou psique?
Realmente, não consigo pensar em algo
mais patético do que o conceito de propriedade intelectual.
Aplica-se isso a tudo!!! Pega-se um cupuaçu, modifica-se por
“biotecnologia” (patenteada é claro) e põe outro nome e uma
patente associada em um país onde neva por 4-5 meses/ano.
A perversão que representa a
propriedade intelectual é quase tão chocante quanto a bestialização
e da imprensa escrita e TV, seu uso político e a disseminação de
ideias desumanas. Agora mesmo tem uma fulana discutindo o seu papel
moral de vilã da novela e o famigerado comunicador arguindo
profundamente o senso moral do telespectador.
No meio desse colóquio uma propaganda
de bens patenteados (celulares) criados com a ajuda não remunerada
de Eisntein quando em seu ano do milagre3
teve ideias originais, relegadas ao bem comum.
1 Também conhecido como vácuo absoluto, no zero absoluto (0º K),
fora do tempo e do espaço, ou seja, uma quimera!
2 Autobiografia:
Como vejo o mundo..
3 1905, lança 4 artigos que fundaram três domínios da física: a física quântica, a teoria dos processos estocásticos e a teoria da relatividade.