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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"SE"


Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum ressentimento,

Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos, Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.
-Hermógenes-

domingo, 26 de setembro de 2010

O pensamento ocidental: o acúmulo de sabedoria



Como diria o filósofo alemão: "Akkumulieren bin, was ich heute bin. Die beste seit meiner Vorfahren und ich bin auf diese Weisheit sitzt." ou, numa tradução mais geral: "me orgulho desta merda!"

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

country music by heart!!!

Que assim seja!!!!


Shree Krishna Govinda Hare Murare!

Incomensuráelmente inspirado nesse instante por nada além do que não compreendo, encerro ou encontro.. ..humildemente vislumbro e contemplo esse momento.

Sendo a consciência estrela que abrasa toda frieza e toda escuridão sinto como que um calor profundo e envolvente desde meu coração. Como água quente ele tira a essência e o sumo clarificado da planta do chá, extrai o significado deste momento aspirando o presente de todos os momentos.

Que o medo e a infelicidade da perda apegada possam cada dia menos tocar-me!

Que eu entenda simples e quietamente a natureza libertadora do amor na forma da prática intencional amorosa, o que posso alcançar atualmente com minha baça potência espiritual.

Que meus erros também se embebam de amor: acolhidos, corrigidos, recuperados, superados... .. sem culpa ou arrependimento, pelo poder da ação e do presente eterno e criativo.


Assim seja!!!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

13 de maio, escravidão


Os escravos negros foram libertados pela princesa branca , tá certo que sem emprego nem nada, mas... né.. livres em fim..
Nem que seja para aparecerem como vilões depois de um bom tempo na veja. Os escravos foram libertados, mas as mentes.. coitadinhas.. escravas da burrice, escravas do bigbrother na grobo..

Fica quietinho filho! pára de chorar!! vai ver tv vai... vai ver as máximas do silvio santos, do faustão, gugu..entre outros seguidores de Hegel..

E viva o fim da escravidão!!!

"..emancipate yourself from mental slavery none but ourselves can free our minds..."

sábado, 8 de maio de 2010

"Clean capitalism"?! Uma ova...



Texto interessante que recebí por email um dia desses, fala do "Clean CApitalism" a nova onda do momento... energia limpa e um monte de coisas, mas sem mudar a relação predátória que promovemos com o outro e com o meio...

Se sentir deprimido com o texto compre uma roupa nova, coma um bigmac.. ou.. LEIA MAIS...
__________________________________
(Genoino Pravda, Sem Sentidos)


Imbecil talvez seja o adjetivo mais adequado para ambientalistas reformistas e toda essa classe de moderados celenterados que vivem a afirmar descaradamente que viveremos em um mundo melhor se estados e corporações capitalistas adotarem tecnologias movidas a energia limpa e produzidas com recursos renováveis! Das duas, uma, ou sofrem de falta de imaginação ou compartilham do afã burocrata de defender os "direitos" dos exploradores de explorar. São uns imbecis por serem consciente ou inconscientemente coniventes com o sistema político-econômico que ameaça todas as outras formas de vida incluindo a longo prazo a sua própria forma.

As implicações da adoção de tecnologias limpas e renováveis em um sistema estruturalmente desumano e predador são simplesmente hecatômbicas. Se estados nacionais e conglomerados corporativos conseguirem livrar-se de sua dependência de combustíveis fósseis e poluentes, não só um futuro melhor não estará assegurado como provavelmente estaremos a caminhar para o fim de nossa existência a passos ainda mais acelerados. Neste ponto certamente muitos dos que lerem esse texto pensarão: "não pode ser...", pense de novo.

A maior parte certamente lembra-se da história de Matrix, e do porque a máquinaria global automatizada foi forçada a assumir a medida vampiro-burguesa de utilizar humanos como baterias - percebendo-se ameaçada pela supremacia das máquinas a humanidade decide lançar no céu um composto químico capaz de impedir que a energia solar seja utilizada. Energia limpa movendo máquinas de moer vidas, puxar o plug da tomada solar não seria suficiente àquela altura, será suficiente agora.

Mas deixe-me descrever um futuro não tão distante quanto esse em que máquinas adquirem consciência de classe e passam a imitar o capitalismo de estado soviete - um futuro muito mais próximo, possível e provável em que meios energéticos "limpos" garantem que a visão de mundo capitalista de predação universal venha a se consolidar em proporções catastróficas.
Imagino colheitadeiras gigantes movidas a energia solar poderiam trabalhar 24 horas por dia (carregando baterias super-eficientes, capazes de uma autonomia de 12 horas da luz solar, trabalhando pelo período em que o sol não possa alcançá-las) em monoculturas transgênicas de todos os tipos, esgotando o solo e produzindo comida perigosa para uma população humana crescente (bem, talvez não para o grosso da população existente, mas para quem ainda puder pagar por ela).

Como previsto em Matriz os avanços na inteligencia artificial permitirão maior desenvolvimento na automatização de sistemas info-eletrônicos-mecânicos, até um ponto em que as "colheitadeiras limpas" conduzirão a si mesmas tornando a profissão de motorista de colheitadeira obsoleta. Provavelmente também a manutenção mais eficiente e mais barata será provida por máquinas de diagnóstico e reparação. Empregos?! Existem ainda alguns no alto de torres cercadas por cercas eletrificadas, alimentadas por eficientes geradores savônios. A elite de executivos come e vive muito bem confinada servida por seus poucos empregados, enquanto os escombros humanos do que um dia foi a classe média afundam na miséria no maravilhoso mundo futuro de energia limpa. Não penso ser possível como em Matrix a supremacia das máquinas pelas máquinas, ainda que em determinado grau de desenvolvimento tecnológico, capitalistas humanos e máquinas possam vir mesmo a se fundir, o paraísos virtuais descritos por Hakim Bey, este upgrade da sociedade do espetáculo talvez os leve à cyber-gnose,
talvez não.

Mas voltemos para o momento em que o capitalismo tal qual conhecemos adota "tecnologias limpas", neste tempo futuro que nos é muito familiar. Com a adoção destas tecnologias provavelmente o número de pessoas com doenças respiratórias diminuirá, mas nem de longe pensem que a taxa de destruição de florestas como a Amazônia conhecerá qualquer redução: espécies animais

e vegetais desaparecerão da mesma forma sob a necessidade constante de produzir mais e mais bens de consumo. A fronteira agrícola não pode conhecer fronteiras: árvores centenárias não serão derrubadas para produzir carvão vegetal, mas para darem lugar a plantações de monocultura e fábricas, galpões de confinamento onde milhões de cabeças de gado confinados esperam a morte no abatedouro.

Provavelmente o ramo da segurança privada terá uma alta crescente, a elite empresarial, e os remanescentes da classe média (formada por poucos serviçais, técnicos ultra-especializados e outros que se encarregam das poucas prestações de serviços ainda não automatizadas) viverão em um mundo

limpo cada vez mais desigual no qual cidades-favelas com 30 milhões de habitantes se espalham pelo terceiro mundo. Todos, é claro, contando agora com formas de produção de "energia limpa", mas com outros recursos (como alimentação, saúde e moradia) cada vez mais escaços. As cidades se tornarão lugares violentos disputados por pequenas tiranias locais: gigantescos barris de pólvora onde têm início revoltas, levantes e pilhagens. Alguns destes grupos talvez se levantem contra corporações-estados ávidos pelos recursos que dependendo da aceleração da produção e do consumo desvinculados do lastro dos combustíveis-fósseis -
Com uma capacidade energética inesgotável que permite que fábricas, campos e minas automatizadas operando sem parar - não tardarão a escassear. E o mundo de energias limpas caminha agora por uma via iluminada na direção do colapso.

Usinas nucleares serão então obsoletas e todo o lixo nuclear agora estará disponível para que exércitos corporativos, facções fundamentalistas autoritárias de todo tipo possam fazer bombas potentes capazes de arrasar com seus inimigos onde quer que se encontrem. Então será a época dos tanques de guerra, aviões, navios e helicópteros movidos a energia hidro-solar (100% não-poluentes) a se arrastarem pelos quatro cantos do mundo, garantindo que certos grupos de interesse imponham sua agenda cuja prioridade é explorar as poucas reservas de água não contaminada em aquíferos subterrâneos, travando guerras muito semelhantes aquelas que vemos hoje pelo petróleo.

Querem que acreditemos que para o bem deste projeto de mundo tudo o que é necessário é que paremos de poluir e continuemos a trabalhar e a comprar, nada mais. Como se a miséria a que serão levadas populações inteiras pelo capitalismo globalizado e energeticamente limpo não fosse, como hoje o é, responsável por novas ondas poluição relacionadas ao trabalho/consumo em outras partes do mundo. Como se um exército de miseráveis fosse partilhar de sua consciência limpa vivendo na ruína e na sujeira de sua sagrada sociedade de classes.

Temos o dever de desconfiar quando políticos hipócritas como Al Gore vêm até nós (todo vísceras) com algumas "verdades inconvenientes". Quando está claro que a mais inconveniente das verdades continua trancada a sete chaves e escondida do conhecimento do mundo: o capitalismo a longo prazo, com ou sem energias renováveis, só pode nos levar à ruína. Estes futuros limpos e vívidos que nos vendem hoje noticiários e propagandas de tecnologia de ponta, não passam de ficções científicas e de apologia ao progresso capitalista, nada mais são do que ilusões marqueteiras para que permaneçamos dóceis e concordantes, favoráveis ao seu projeto de desenvolvimento e omissos em relação à agenda de predação global.

Eles talvez sejam vívidos por uns poucos herdeiros de nossas elites, enquanto a imensa maioria de nós chafurdará em favelas pestilentas de um mundo de fome - talvez assistam noticiários sobre nós em paredes de tela plana de alta definição no alto de suas torres e em seus condomínios fortificados, enquanto nos matamos bem longe de seus arranha-céus não poluentes - na barbárie de um mundo de capitalismo tardio.

Não podemos desejar um capitalismo mais limpo, já que seria uma contradição lógica - a verdade mais inconveniente é que como um grande monstro mecânico e assimilador que é, o capitalismo jamais será limpo do sangue daqueles que devora por suas muitas bocas cheias de engrenagens. Independente das formas de energia que o alimenta, as esteiras de produção capitalistas exigem uma constância capaz de reivindicar para si tudo aquilo que possamos eventualmente precisar para viver (e muito mais que isso). A criação da escassez é a alma do negócio.

Desejar um futuro em que o capitalismo seja destruído e derrotado é a única solução, talvez as ações movidas por esse desejo se revelem nossa única possibilidade de um futuro digno a médio e longo prazo. Nesse sentido penso que ser protópico não é uma opção, é sim uma necessidade!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Eduardo e Monica

Coisas simples.. amor, amizade... essa é a natureza, o estado da arte!!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O feijãozinho e a caveira


Desde o dia em que plantamos o feijãozinho no algodão, com a “tia” da 1ª série (ou antes) entendemos, mesmo que intuitivamente, o poder que tem em uma semente. Nossos antepassados, e nem precisa ir até a pré-história, se deram conta desse potencial de alguma forma e mesmo que de início rusticamente, como o grão de feijão no algodão, deram um significado para isso: nascia a agri-cultura.


Bom, deixemos um pouco de lado as críticas à cultura simbólica e nos concentremos nas necessidades básicas: comer. Nossos antepassados, mesmo ignorantes da maravilha tecnológica atual tinham em mente que comida era pra comer, nessa ordem. O que me angustia é que esse “entendimento” mudou, o que era uma fonte de alimentos para si e para os seus, não importa quantas pessoas constituíssem esse segundo grupo, passou a ser um valor abstrato, simbólico de troca por... bem por alguma coisa, que nem sempre era de comer. O que importa, lá no fundo, é que a semente produzia comida e essa comida era comida e re-plantada por seres humanos e para esses.


Crescemos, nos multiplicamos e então o feijãozinho se tornou menos tocante, tínhamos agora outras coisas maravilhosas com que nos preocupar, basicamente transformamos o instinto de auto-preservação num egoísmo exacerbado e aí vieram várias noções interessantes: orgulho, arrogância, vaidade... é claro, tudo simbólico porque o bom e velho feijãozinho fazendo a metáfora da vida e da impermanência já não estava na moda. Ah é, o feijãozinho também faz comida!!!


Hoje (e me perdoem o brusco corte histórico) as sementes servem para muitas coisas, algumas em menor escala, como alimentar ao semelhante (lembra dele?). O que estou louco pra lhes contar é que: depois de muito estudar os nossos cientistas e políticos, só os bem pagos, resolveram que as sementes serão selecionadas, e distribuídas por algumas empresas (que é uma outra coisa da cultura simbólica) para alguns caras que podem plantar muito!!! Essas sementes serão utilizadas na bolsa de valores, que é uma das maiores maravilhas do mundo e serve pra fazer dinheiro!! O melhor de tudo é que a biotecnologia (esse é o nome da ciência que teve origem na observação do feijãozinho) decidiu que o feijão poderá ser plantado somente uma vez, ou seja, o feijão que você colheu, que antes servia pra comer e re-plantar agora só serve pra comer... ou melhor, ele passa pela bolsa de valores e o que sobrar vai ser dado pra algumas pessoas comerem, mas não sem antes passar por uma indústria que vai frita-lo, conserva-lo e embala-lo em plástico e alumínio. Por acaso essa indústria é do mesmo dono daquela que vende a semente.


Já ia me esquecendo quem quiser plantar novos feijões tem que comprar dos caras da tal empresa, que também vende os fertilizantes, os venenos necessários para matar os desprezíveis animais que atacam o pobre feijãozinho, que agora é venenoso!! Sabe se defender!!


No fim das contas avançamos muito não é? Graças a esses cientistas/legisladores, vivemos num mundo de ciência e leis, não é ótimo? Quem ia querer regredir tanto até onde as coisas não tinham valores abstratos (monetários, via de regra) e a comida servia para alimentar o clã?


Quem sabe só eu.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Para todos que creem na biotecnologia como solução da fome....



CONTRATOS SECRETOS DA MONSANTO SÃO REVELADOS
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Contratos confidenciais que detalham as práticas de negócios da Monsanto revelam como a maior desenvolvedora de sementes do mundo está pressionando competidores, controlando companhias menores de sementes e protegendo seu domínio sobre o mercado multibilionário de sementes geneticamente modificadas.

Com os genes patenteados da Monsanto inseridos em cerca de 95% de toda a soja e de 80% de todo o milho produzido nos EUA, a companhia também está usando seu amplo alcance para controlar a habilidade de novas empresas biotécnicas de obter uma grande distribuição de seus produtos, de acordo com uma investigação de diversos acordos de licenciamento da Monsanto e dezenas de entrevistas com participantes da indústria das sementes e com especialistas em direito e em agricultura.

A queda da competição no negócio de sementes poderia levar a uma elevação de preços que atingiriam a mesa de todas as famílias. É por isso que os flocos de milho que você come no café-da-manhã, o refrigerante que você bebe no almoço e o molho de carne que você janta provavelmente foram produzidos a partir de sementes que cresceram com os genes patenteados da Monsanto.

Os métodos da Monsanto são explicados em detalhe em uma série de acordos de licenciamento comercial confidenciais obtidos pela Associated Press. Os contratos, de 30 páginas, incluem termos básicos para a venda de sementes manipuladas resistentes ao herbicida Roundup da Monsanto, junto com acordos suplementares mais curtos, que se referem às novas características da Monsanto ou a outras emendas de contratos.

A companhia usou os acordos para difundir sua tecnologia – dando a cerca de 200 companhias menores o direitos de inserir genes da Monsanto em suas variedades separadas de pés de milho e de soja. Mas, segundo a investigação da AP, o acesso aos genes da Monsanto vem com um custo e uma grande quantidade de outros anexos pendentes.

Por exemplo, uma cláusula de um contrato proíbe que empresas independentes cultivem plantas que contenham tanto os genes da Monsanto e os genes de qualquer um de seus concorrentes, a menos que a Monsanto tenha lhes dado uma permissão prévia por escrito – dando à Monsanto a possibilidade de efetivamente trancar a porta para que seus concorrentes insiram suas características patenteadas na vasta parcela das sementes norte-americanas que já contêm genes da Monsanto.

As estratégias de negócio e os acordos de licenciamento da Monsanto estão sendo investigadas pelo Departamento de Justiça dos EUA e por pelo menos dois procuradores gerais do Estado, que estão tentando determinar se essas práticas violam as leis antitruste dos EUA. As práticas também estão no centro de processos antitruste civis contra a Monsanto apresentados por seus concorrentes, incluindo um processo de 2004 apresentado pela Syngenta AG, que foi decidido por meio de um acordo, e uma litigação em curso pedida neste verão pela DuPont em resposta à ação judicial da Monsanto.

A gigante da agricultura com sede no subúrbio de St. Louis disse que não fez nada errado.

"Nós acreditamos que não haja qualquer mérito para alegações sobre nossos acordos de licenciamento ou seus termos", disse o porta-voz da Monsanto, Lee Quarles. Ele disse que não poderia comentar sobre cláusulas específicas dos acordos, porque eles são confidenciais e estão sujeitos a uma litigação em curso.

"Nossa atitude com relação ao licenciamento a muitas companhias é pró-competição e permitiu que literalmente centenas de empresas de sementes, incluindo todos os nossos principais concorrentes diretos, oferecessem milhares de novos produtos para sementes aos agricultores", disse.

O benefício da tecnologia da Monsanto para os fazendeiros é inegável, mas alguns de seus principais concorrentes diretos e empresas de sementes menores afirmam que a companhia está usando táticas repressivas para promover o seu controle.

"Acreditamos agora que a Monsanto tem controle sobre algo como 90% das sementes transgênicas. Esse nível de controle é quase inegável", disse Neil Harl, economista agrícola da Iowa State University, que estudou a indústria das sementes durante décadas. "O resultado disso é que está se intensificando o controle da Monsanto e tornando-lhes possível o aumento de seus preços a longo prazo. E temos visto isso acontecer durante os últimos cinco anos, e o fim não está ao alcance dos olhos".

Aumento dos preços

Questiona-se quanto poder uma única empresa pode ter sobre as sementes, o fundamento do suprimento de alimentos do mundo. Sem uma competição forte, a Monsanto pode elevar o preço de suas sementes o quanto quiser, o que, por sua vez, pode elevar o custo de tudo, desde a ração animal até o pão branco e os biscoitos.

O preço das sementes já está aumentando. A Monsanto aumentou o preços de algumas sementes de milho no ano passado em 25%, com 7% adicionais de aumento planejados para as sementes de milho em 2010. As sementes de soja da marca Monsanto subiram 28% no último ano e ficarão estáveis ou aumentarão 6% em 2010, disse a porta-voz da empresa, Kelli Powers.

O grande uso de acordos de licenciamento pela Monsanto colocou as suas características biotécnicas entre as tecnologias mais ampla e rapidamente adotadas na história da agricultura. Nestes dias, quando os agricultores compram fardos de sementes com marcas obscuras como AgVenture ou M-Pride Genetics, eles estão pagando por produtos de licença da Monsanto.

Uma das inúmeras cláusulas nos acordos de licenciamento é a proibição de misturar genes – ou "amontoar", na gíria industrial –, o que aumenta o poder da Monsanto.

Uma cláusula contratual provavelmente ajudou a Monsanto a comprar 24 empresas de sementes independentes em todo o Cinturão Agrícola [Estados do Meio Oeste dos EUA como Iowa, Kansas, Minnesota, Nebraska, Dakota do Norte e do Sul] ao longo dos últimos anos: esse acordo sobre as sementes de milho afirma que, se uma empresa menor muda de proprietário, seu inventário com as características da Monsanto "deve ser destruído imediatamente".

No entanto, Quarles disse que não sabia desse acordo mais antigo, obtido pela AP, mas disse que, "da forma como eu entendo", a Monsanto inclui cláusulas em todos os seus contratos que permitem que as empresas vendam seu inventário se o proprietário mudar, em vez de forçá-las a destruir o inventário imediatamente.

Outra cláusula de contratos do início da década – referentes a descontos – também ajuda a explicar o rápido crescimento da Monsanto ao ampliar os novos produtos.

Um contrato dava a uma empresa de sementes independente grandes descontos se a companhia assegurasse que os produtos da Monsanto atingissem 70% do total do seu inventário de sementes de milho. Em sua ação judicial de 2004, a Syngenta chamou os descontos como uma parte da "campanha de terra arrasada" da Monsanto para manter as novas características da Syngenta fora do mercado.

Quarles disse que os descontos foram usados para atrair as empresas de sementes a divulgar produtos da Monsanto quando a tecnologia era nova e os agricultores ainda não a haviam usado. Agora que os produtos estão bem difundidos, a Monsanto não deu continuidade aos descontos, disse ele.

Os contratos da Monsanto revistos pela AP proíbem que as empresas de sementes discutam termos, e a Monsanto tem o direito de cancelar acordos e destruir os inventários de um negócio se as cláusulas de confidencialidade são violadas.

Thomas Terral, diretor geral da Terral Seed, em Louisiana, disse que recentemente rejeitou um contrato da Monsanto porque colocava muitas restrições ao seu negócio. Mas Terral recusou apresentar o contrato não firmado à AP ou mesmo discutir seus conteúdos porque ele tinha medo de que a Monsanto o retaliasse e cancelasse o resto de seus acordos.

"Eu estaria tão envolvido com o que seria capaz de fazer que basicamente eu não teria valor nenhum para qualquer outra pessoa", disse ele. "A única pessoa à qual eu teria valor seria a Monsanto e continuaria pagando milhões para eles em taxas".

Os proprietários de empresas de sementes independentes poderiam renunciar a seus contratos com a Monsanto e retornar às vendas de sementes convencionais, mas disseram que isso poderia ser financeiramente desastroso. O gene Roundup Ready da Monsanto se tornou o padrão industrial ao longo da última década, e as pequenas empresas temem a perda de consumidores se renunciarem a ele. Também poderia levar anos de cultivos e investimentos para misturar os genes da Monsanto em uma linha de produtos de uma companhia de sementes, por isso renunciar aos genes poderia ser muito custoso.

A Monsanto reconhece que os advogados do Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) estão procurando documentos e entrevistando empregados da empresa sobre suas práticas de mercado o DOJ não quis comentar.

Um representante do procurador-geral de Iowa, Tom Miller, disse que o escritório está examinando possíveis violações antitruste. Além disso, duas fontes íntimas à investigação no Texas disseram que o escritório do procurador-geral do Estado, Greg Abbott, estão investigando as mesmas questões. Os Estados têm a autoridade de fazer valer as leis antitruste federais, e os procuradores-gerais muitas vezes estão envolvidos nesses casos.

O presidente e diretor-executivo da Monsanto, Hugh Grant, disse aos analistas de investimentos durante uma conferência que os aumentos de preços se justificam por causa do estímulo de produtividade que os agricultores tiveram com as sementes da companhia. Os agricultores e os proprietários de empresas de sementes concordam que a tecnologia da Monsanto impulsionou os rendimentos e os lucros, economizando o tempo que eles antes gastavam eliminando as pragas e o dinheiro que gastavam com pesticidas.

Mas os recentes aumentos de preços ainda têm sido duros para engolir nas fazendas. "É como se eu tivesse sido atingido por um mal tempo e tivesse tido um rendimento pobre. Isso apenas significa que eu ganhei menos no fim das contas", disse Markus Reinke, produtor de milho e soja perto de Concordia, Missouri, que assumiu a fazenda de sua família em 1965. "Eles podem cobrar porque podem fazer isso e prosseguir normalmente. Nós, agricultores, só nos queixamos, balançamos nossas cabeças e seguimos em frente com isso".

Qualquer caso do Departamento de Justiça contra a Monsanto poderia dar origem a um novo patamar ao equilibrar um direito da empresa de controlar seus produtos patenteados ao mesmo tempo em que protege o direito à competição livre e aberta, disse Kevin Arquit, ex-diretor da Federal Trade Commission Competition Bureau e atual procurador antitruste com a empresa Simpson Thacher&Bartlett LLP, em Nova York.

"Há questões muito interessantes e não apenas para as empresas, mas para o Departamento de Justiça", disse Arquit. "Eles estão em uma área em que há incerteza na lei e há implicações sobre o bem-estar do consumidor e sobre as políticas governamentais independentemente do resultado".

Outras empresas de sementes seguiram a liderança da Monsanto incluindo cláusulas restritivas em seus acordos de licenciamento, mas seus produtos penetraram apenas em segmentos menores do mercado de sementes dos EUA. O gene Roundup Ready da Monsanto, por outro lado, está em um conjunto tão amplo de sementes que seus acordos de licenciamento podem ter um efeito massivo nas leis do mercado.

O crescimento do gigante

A Monsanto era apenas um concorrente de um nicho específico nos negócios de sementes há 12 anos. Ela chegou ao topo graças à inovação de seus cientistas e ao agressivo uso da lei de patentes por seus procuradores.

Primeiro, veio a ciência, quando a Monsanto, em 1996, introduziu a primeira variedade comercial de sementes geneticamente modificadas de soja do mundo. As plantas Roundup Ready era resistentes ao herbicida, permitindo que os agricultores passassem Roundup quando quisessem, em vez de terem que esperar até que a soja tivesse crescido o suficiente para suportar o produto químico.

A companhia logo colocou à disposição outras sementes transgênicas, como os pés de milho que produziam um pesticida natural para afugentar insetos. Mesmo que a Monsanto tivesse produtos que eram um sucesso de venda, ela ainda não tinha um ponto de apoio em uma indústria de sementes feita de centenas de empresas que abasteciam os agricultores.

Foi aí que entraram as inovações legais, quando a Monsanto se tornou uma das primeiras a patentear amplamente seus genes e a conquistar o direito de controlar estritamente como deviam ser usados. Esse controle permitiu-se difundir sua tecnologia por meio de acordos de licenciamento, ao mesmo tempo em que formava o mercado ao redor deles.

Ainda na década de 70, universidades públicas desenvolveram novas variedades para as sementes de milho e de soja que faziam com que crescessem de forma resistente e resistissem às pestes. As empresas de sementes pequenas obtinham as variedades a preço baixo e podiam misturá-las a sementes de espécies superiores sem restrições. Mas os acordos deram à Monsanto o controle sobre a mistura de múltiplas variedades biotécnicas de sementes.

As restrições atingiam até pesquisadores financiados pelos contribuintes.

Roger Boerma, professor pesquisador da Universidade da Georgia, está desenvolvendo variedades especializadas de sementes de soja que crescem bem nos Estados do sudeste norte-americano, mas sua pesquisa atual está presa por essas restrições da Monsanto e de seus competidores.

"Tornou uma fase da nossa vida incrivelmente desafiador e difícil", disse Boerma.

As regras também podem restringir a pesquisa. Boerma parou uma pesquisa sobre uma linha de novas plantas de soja que continham uma característica de um competidor da Monsanto quanto ele soube que a característica era inefetiva a menos que pudesse ser misturado ao gene Roundup Ready da Monsanto.

Boerma disse que ele nem pensou em pedir permissão da Monsanto para misturar suas características com a variedade do competidor.

"Eu acho que a mistura da tecnologia de características deles com a tecnologia de características de outra companhia provavelmente seria um sério problema para eles", disse.

Ao mesmo tempo, os direitos de patente da Monsanto dão-lhe a autoridade para dizer até que ponto as empresas são independentes para usar suas características, disse Quarles.

"Tenham em mente que, como o desenvolvedor de propriedade intelectual, é nosso direito determinar quem irá obter os direitos sobre nossa tecnologia e para qual objetivo", disse.

"Se as empresas de sementes independentes estão perdendo sua licença e têm que destruir suas sementes, elas não vão ter nada, com efeito, para vender", disse Boies. "Isso requer que elas destruam coisas – destruam coisas que pagaram – se se tornarem competitivas. Esse é exatamente o tipo de restrição sobre escolhas competitivas que as leis antitruste proíbem".

Alguns donos de empresas de semente independentes disseram se sentem crescentemente prejudicados com o fortalecimento da liderança da Monsanto na indústria.

"Eles têm o capital, têm os recursos, são donos de muitas empresas e estão comprando mais. Nós somos uma cidade do interior, eles são a Wall Street", disse Bill Cook, co-proprietário da empresa de sementes M-Pride Genetics, em Garden City, Missouri, que também não quis discutir ou fornecer os acordos. "É muito difícil competir nesse ambiente contra empresas como a Monsanto".

*Chirstopher Loenard, Associated Press e The Atlanta Journal-Constitution,Tradução Moisés Sbardelotto do site IHU/Unisinos.

(Envolverde/Ecoagência)