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segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Humanidade Cotidiana


Estive experimentando um porre de informações esta semana e por conseqüência agora estou com uma ressaca moral. Por mais desligados que pudessem parecer terrivelmente os assuntos tem tudo haver entre si.

Consumismo induzido entre crianças, saúde pública, nossa percepção do outro, do marginal da sociedade, os conceitos clássicos de economia, a destruição da Amazônia, o grande sem sentido da vida materialista, o suicídio de duas pessoas na última semana e a doença de um ente querido. Parei a refletir também as minhas limitações, a minha imensa tendência a preguiça, que me obriga a lembrar seguidamente que o universo não é inerte, nem eu.

Como uma de minhas limitações capitais é a organização terei que tratar cada coisa por ordem, num esforço de ordenar-me eu.

Assisti a um documentário intitulado “criança a alma do negócio” [1] que me deixou profundamente tocado e chateado, um motivo é talvez o de eu ser pai e saber que as crianças são egoisticamente e irresponsavelmente levadas a uma mentalidade consumista o que é permitido por nós, os adultos. Estamos em total desacordo com a nossa natureza fundamental: a de Ser social criado para conviver, para aprender e para de alguma forma crescer em “alto e profundo” para o bem do coletivo que é o nosso próprio. Eu sei que a noção implantada em nós desde o jardim de infância (ou antes) é a de que o individualismo materialista é a melhor e única forma de realização do ser humano.

Já paramos atentamente ante os fatos para reparar na mentira, na falácia que é essa afirmação? A propósito: nossa economia, bem como nosso modo de vida é baseado nela EXCLUSIVAMENTE. Duvida? Então responda com sinceridade o porquê de você e eu termos necessidades de tantas coisas que a priori nunca foram nem nunca serão essenciais. Carros (mais de um se possível) celulares, templos de consumo, roupas caras (que tem a mesma função das que não são tão caras) e uma infinidade de inutilidades que acumulamos não só fisicamente, mas psicologicamente e espiritualmente.

Como disse o Pach Adams em sua entrevista[2] “tudo o que precisamos é comida e amigos”. Dá para ser mais sucinto? Dá para ser mais realista? Com a amizade temos a socialização, temos a relação saudável com a vida e somos psicologicamente estáveis, pois amizade é a primeira forma de amor. Com a comida pode entender-se desde a sua produção e a sua divisão. Com isso temos a posse coletiva da terra, a não alienação das populações urbanas e uma série de outras conseqüências que você pode chegar utilizando a sua mente. Todas elas salutares e efetivas do ponto de vista humanista (ah claro, é interessante ressaltar que me ponho como ser Humano).

Com a questão da saúde pública tenho muito carinho, apesar de não ser a “minha área” ela é a área fundamental de todo ser, pois trata de bens valiosíssimos: o corpo, o convívio e o meio. Comecemos a perceber que tudo até agora está interpenetrado, então talvez seja útil tratar cada assunto como um ponto diferente de observação que fundamentalmente está ligado aos demais. A saúde não pode jamais ser tratada (como o é) apenas como a ausência de doenças e tampouco que estas doenças estejam unicamente localizadas no corpo. A saúde é bem estar de todas as formas possíveis. Físico, sentimental, social, alimentar e todas as outras vertentes que conseguirmos imaginar. Resumindo é um estado de plena realização.

Agora a pergunta: sou saudável? Quais são e em que parte da minha vida estão às relações enfermiças e doentes com a vida, comigo e com o outro? Será que é saudável comprar para se preencher? Quem não ouviu em uma novela, filme ou de uma amiga ou amigo “quando estou deprimida vou ao shopping” como se fosse uma coisa engraçadinha, uma banalidade. Para mim particularmente é um pedido de socorro, um suicídio em potencial, não que vá ocorrer de fato com um tiro na moleira, mas vocês sabem o prozac está aí e ele garante a anestesia da alma, mesmo que por um tempo. Dessa forma o suicídio pode vir na forma de um câncer (menos culpável perante a sociedade) ou quem sabe um aneurisma, um “acidente” de carro.. nesse “transito tão violento” sei lá.. pode colar.

Das relações doentes brota facilmente a relação com o corpo. Tenho contato com adolescentes quase que diariamente. É interessante, eles são o resultado hoje da educação dos pais que foram educados dos anos 70 em diante (auge da propaganda). Como essas meninas são oprimidas! Como a sociedade torna-se mais e mais machista. As meninas têm que ser bibelôs: magras com seios fartos, traseiros perfeitos para serem socialmente aceitas. A minha filha tem esse papel já predisposto pela nossa doença social. A mocinha da novela das oito, que deveria ser motivo de pena é o objetivo de uma massa de pessoas que luta desesperadamente por aceitação.

Os homens não são diferentes: dos meninos é esperada uma virilidade de fachada, todos tem que ser poderosos, fazer sexo com muitas meninas e trata-las como lixo, ora bolas, elas mesmas se tratam como lixo, todos se tratam como lixo.

O próprio conceito de “lixo” vai contra as leis universais da natureza, é uma outra manifestação da doença humana. Como falar então de saúde, bem estar nesse contexto?

Felizmente temos as duas maiores e melhores coisas do universo para nos tornarmos saudáveis no nosso contexto planetário: A vontade e o outro. As duas coisas são indissociáveis de nós, pois só somos humanos porque existimos - se e somente se - estamos em contato com o outro, desde o nascimento. O segundo fator, vontade, se cria e emerge com a nossa individualidade, tende a autonomia nos move inexoravelmente em direção as nossas escolhas, se não a temos somos compulsoriamente arrastados até desenvolvermos essa atribuição. Quanto a saúde poderíamos continuar por muito tempo falando, mas falando das outras propostas também estaremos falando dela.

Hoje de manhã estava tomando um café com leite na cantina da universidade e observando alguns moradores de rua que, de acordo com os doutos, apresentam quadros de doença mental.. esses termos que ficam elegantes nas bocas dos psicólogos e psiquiatras. Estava reparando o paradoxo da universidade, como aqui há um clima de superioridade com relação á comunidade externa. Como as coisas aqui são, da mesma forma voltadas para o individualismo duro e para a manutenção da concentração de renda terra, ou seja lá o que for, nas mãos daqueles que já os têm.

Observando essas duas coisas concluí que os moradores de rua são os termômetros para percebermos o quão mal as coisas vão. Onde estão as pessoas que precisam de universidades públicas? As que não se utilizarão dos recursos coletivos para abrir se próprio negócio, consultório.. etc. Nesse ponto podemos estar pensando, mas é natural! As pessoas lutam, estudam para se dar bem na vida.. e isso acontece como fruto do esforço e do trabalho e do empenho e blá blá blá... Outras mentiras convenientes nas quais queremos acreditar.

Absurdo!? Um ultraje!? Não... não... Ultrajante é continuarmos a nos destruir e destruir a tudo e todas à nossa volta como se fizesse parte (como faz realmente) das regras do jogo.

Vejamos outros exemplos bastante contemporâneos para ilustrar ainda mais o nosso pequeno exercício. A aprovação de uma lei no congresso que, sem meias palavras, autoriza a exploração da Amazônia o roubo de terra por fazendeiros o assassinato dos poucos indígenas que restaram, sem direitos, sem dignidade e sem humanidade.

Patrimônio coletivo da humanidade, dos animais, das plantas sendo vendido para o bom e velho lucro a qualquer custo. Na outra ponta as pessoas que fazem a economia e suas teorias estapafúrdias (pelo menos no tocante a economia clássica e neoclássica) sem considerar que o mundo é finito e com vários erros crassos de lógica disfarçados por mentiras elegantes.

O mais engraçado e perverso é que não conseguem ver (ou estamos tão formatados que não conseguimos tampouco queremos ver a nossa perversão) que o fim ultimo é o bem estar coletivo, planetário e nunca o lucro e acumulação às custas de outros povos, países, ecossistemas, vidas.

Realmente somos macacos muito confusos[3] que pensam que são muitas coisas e não são! Que não sabem que as coisas que criam para fugir de si só os levaram mais e mais fundo até, pelo sofrimento excessivo um dia possam se encontrar, mas até lá quem sabe não tenham mais a sala de aula destruída no processo. O problema é: só temos essa.

Viver é experienciar, se negar é tentar se manter inerte, sofrer sem necessidade e sem inteligência. As únicas coisas que têm valor são as que são construídas com amor pelo amor ao outro e a si e desta forma para o universo.

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[1] O link para o documentário será inserido ao final do texto.

[2] Link também adicionado ao final.

[3] Dancem macacos, dancem: link anexo.

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links

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Link 1 - http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40

Link 2 - http://www.youtube.com/watch?v=8Q7aqa-G0l8&hl=pt-BR

Link 3 - http://www.youtube.com/watch?v=dPH3iynhqK4&feature=related






4 comentários:

  1. Concordo com a citação feita, com relação a Pach Adams, "tudo o que precisamos é comida e amigos". Entretando, acrescento que precisamos, fundamentalmente, de Deus. É ele que nos dá entendimento, nos dá sabedoria. No entanto, quando não seguimos Seu caminho ou fingimos que o seguimos, para estar com imagem de bonzinho, perante os demais, é que permitimos que as coisas ruins, citadas na crônica, aconteçam. O caminho que Ele nos apresentou, através de seu Filho, é de simplicitade e autenticidade, porém difícil de segui-lo, diante de tantas "tentações" do mundo. Para podermos ser "sal da terra e luz do mundo" é preciso coerência entre o que falamos e nossas ações. A verdade também anda em baixa, com tantos exemplos que vemos e ouvimos todos os dias, nos meios de comunicação, ou mesmo, no nosso convívio diário. Um exemplo mais banal é, quando toca o telefone e o pai diz ao filho "diga que eu não estou". Não se pode acreditar mais nem em juramentos. Aliás, há dois mil anos, o grande mestre Jesus falou, em Mateus 5, "dizei somente: 'sim' se és sim; 'não' se é não. Tudo o que passa além disto, vem do Maligno". Será que há esperança para a nossa "civilização"? Eu acredito que sim, mas tem que começar por mim e por você.

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  2. Sabe Carlos, eu penso que se nós pararmos pra pensar nos problemas e dilemas do mundo, dai a gente vai ficar doido e depressivo, porque o saber demais de tudo é autoflagelante.
    O que quero dizer com isso, é que o pensamento simples e o acreditar no simples é a melhor coisa.
    Eu acredito na inteligencia do meu filho e acredito que minha vida é bacana, nao 100%, mas quem é 100%? ninguém.
    entao, o melhor que posso fazer é aproveitar o melhor que a vida pode me dar e proporcionar a felicidade do amor, afeto e segurança pro meu pequeno. O resto, é resto e não me importa, realmente não me importa saber se morreram 1, 10 ou 100!! pq eu tenho que me preocupar com meu pequeno, isso pode ser egoista, mas eu pelo menos estou protegento meu pequeno intelecto de uma depressão profunda por nao poder mudar ou ajudar o mundo.

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  3. Engraçado pensar em todo movimento incessante que ocorre nas mais diversas situações e ocasiões, em todos os lugares, não importando a cultura, crença, filosofia ou meros achismos. O processo relacional - que nos faz definitivamente existir num contexto global - torna-se a melhor forma para existir a si mesmo, simples, que a medida em que percebo o outro, adentro a uma infinita profundidade ou altura, como queira, no meu próprio EU! Tomei conhecimento do seu blog numa linda noite de lua cheia, através de seu primo (Chiquinho), quando o corpo já se expandia, não me referindo a forma mas consciencialmente, em uma interação de indagações, certezas, crenças, ou seja, uma troca de idéias, pensamentos e fortalecimento daquilo a q chamamos amizade! Interessante que tal movimento falava dessas coisas quase que tão sequencialmente quanto você escreveu. E lendo-te me veio a idéia tão concreta e abstrata de que não importa em que pé estamos vivendo, a verdadeira importância é viver sem ter pés... é! pés que nos fixam a um ponto externo (um problema, uma mazela da sociedade EGOísta) ou num tempo (de coisas que já se fizeram fatos ou do que projetamos para um futuro incerto) que nos impedem de vivenciar e explorar a infinitude do instante agora, este que contém todas as possibilidades, todo poder, toda sabedoria, dentro de um contexto holístico, humanista, existencial e fenomenológico. Por fim, acrescento que as asas que nos libertam dessa prisão de conceitos introjetados, são a VERDADEIRA essência do SER uno que pensa para o BEM, sente para o AMOR e vive na vida de DEUS - ser a mudança que queremos ver no mundo. E se me permite uma sugestão, sinto que você vai gostar do livro: "A doença como caminho", é fantástico. Bom dia! =D

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  4. Bom dia Carlos! Te passei o nome do livro e esqueci de falar dos autores: Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke. É realmente fantástico, fala exatamente da cura da raíz da doença espiritual que através de diversos sintomas se manifesta no corpo físico.
    Pra comentar no seu blog tive de construir um também, coisa que vinha adiando por uma certa "falta de tempo"...
    Também espero que possamos compartilhar nossas idéias, me identifiquei muito com o seu modo de ver e sentir o mundo!
    Bom final de semana, repleto da luz do amor!

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